Título: Clube da Luta
Autor: Chuck Palahniuk
Páginas: 272
Editora: Leya Brasil
Sinopse: Considerado um clássico moderno desde sua publicação em 1996, o livro Clube da Luta consagrou Chuck Palahniuk como um dos mais importantes e criativos autores contemporâneos, além do próprio livro como um cânone da cultura pop. O livro que estava esgotado há anos volta às livrarias nessa caprichada edição. O clube da luta é idealizado por Tyler Durden, que acha que encontrou uma maneira de viver fora dos limites da sociedade e das regras sem sentido. Mas o que está por vir de sua mente pode piorar muito daqui para frente. O livro foi filmado em 1999, Por David Fincher (Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, A Rede Social), que possui duas nomeações ao Oscar, que conseguiu adaptar toda atmosfera do livro, o mundo caótico do personagem e o humor negro de Palahniuk em uma trama recebida com inúmeros elogios pela crítica e pelo público que conta com os atores Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter. (Via Skoob)
Bem, só pra avisar: essa é a minha primeira resenha de livro aqui no blog. Já falei sobre outros livros antes, mas nunca tive que pensar em uma forma que ficasse bem elaborada e interessante para se ler em um blog. Quanto a escolha desse livro para ser minha estreia na categoria "Livros", meu critério foi bem simples: este foi o último livro que li. Quando pensei: "Poxa, sobre que livro eu falo?", me veio logo na cabeça os meus favoritos, mas eu queria algo recente, que eu pudesse lembrar bem dos detalhes. Não que eu tenha esquecido dos outros livros que li, não é isso! Apenas por ter acabado a leitura a poucos dias, acho que as ideias e impressões que tive a respeito deste livro estão mais frescas na minha cabeça, o que proporcionaria uma resenha melhor.
Sem mais delongas, vamos a resenha!
AVISO: CONTÉM REVELAÇÕES DO ENREDO.
AVISO: CONTÉM REVELAÇÕES DO ENREDO.
"A primeira regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta. E a segunda regra do Clube da Luta é não falar sobre o Clube da Luta."
Como definir o livro Clube da Luta em uma palavra? "Complexo". Sim, este livro é beeem complexo. Traz do início ao fim, complexidades sobre a vida, sobre tudo o que ela representa, sobre o que fazemos com ela e se estamos satisfeitos com isso. Interrogações que devem passar nas cabeças de todas as pessoas, inclusive na minha e na sua. A diferença neste livro é exatamente a forma como a vida é retratada: Palahniuk se utiliza de situações fora do comum, com uma linguagem e humor negro bem específicos, e apesar de não ter lido (ainda!) outros livros do autor, acredito que seja um estilo bem próprio dele.
O livro começa com os personagens centrais: Tyler Durden e o outro personagem que em momento algum revelou seu verdadeiro nome e que é o narrador durante todo o livro (fãs do livro o chamam de Jack, que é um nome bem genérico nos Estados Unidos e é utilizado para quando não se sabe o nome de alguém. Então, enquanto estiver falando sobre esse personagem aqui na resenha, adotarei também este nome). Eles estão no alto de um prédio, Jack sendo ameaçado com uma arma por Tyler, que segundo este, queria finalizar tudo o que o Clube da Luta representa (e que eu falarei já, já) com chave de ouro. Aí, você pensa: "Caramba, o livro já começa tenso assim?". Deixe-me explicar. Sobre o que li a respeito das obras de Palahniuk e comprovei nesse livro, o autor não utiliza uma ordem cronológica para os fatos. Ele começa com o ponto alto da história, sem realmente revelar suas consequências e no decorrer do livro ele volta no tempo, mostrando como tudo chegou a tal ponto e no final, com alguma revira-volta, ou surpresa que sempre desarma os leitores.
"É fácil chorar quando a gente sente que as pessoas que amamos vão nos rejeitar ou morrer. Em pouco tempo o índice de sobrevivência de todo mundo cairá a zero."
"É fácil chorar quando a gente sente que as pessoas que amamos vão nos rejeitar ou morrer. Em pouco tempo o índice de sobrevivência de todo mundo cairá a zero."
Voltando ao Clube da Luta, depois deste momento tenso do entre vida ou morte de Jack, temos o desenrolar da trama. Jack é uma pessoa comum, com uma vida comum, com um trabalho comum, com uma casa comum. Tudo comum. Tanta mediocridade foi o que me pareceu ter levado o personagem a um problema insuportável de insônia e principalmente de não-aceitação com a sua realidade. Ele procura ajuda de diversas formas. Vai ao médico para saber se a insônia é sintoma de alguma doença, e mesmo o médico passando remédio e o recomendando a fazer mais exercícios, nada se resolve. Então, através do próprio médico, ele encontra a cura para sua insônia de uma forma inusitada: ele começa a ir a grupos de apoio para pessoas com doenças terminais. Isso mesmo, ele consegue dormir depois de uma boa sessão ao lado de pessoas que unem-se ao desamparo de uma doença que os levará a morte. Vale ressaltar que o personagem não tem câncer ou nenhuma espécie de doença terminal. Já dá pra se tirar daí a relação do personagem com a morte. Várias vezes ele deseja morrer.
Ele vai em grupos de pessoas com parasitas no sangue, tuberculose, melanoma, câncer de bexiga, leucemia e até aí nenhuma melhora, Jack continua sem dormir. Então ele conhece Big Bob nos Remanescentes Unidos, um cara que perdeu tudo por causa do câncer testicular. Ao conhecer a história de Big Bob, Jack finalmente se entrega de corpo e alma as sessões, deixando aparentemente extravasar tudo o que lhe impedia de ter uma boa noite de sono.
"Da próxima vez que nos encontrarmos, direi: Marla, não consigo dormir com você aqui. Eu preciso disto. Dê o fora."
Quando finalmente Jack consegue ter algumas noites de sono, entra Marla na história. Ele dá uma descrição da personagem: "cabelos curtos, pretos, desgrenhados, olhos redondos como num desenho animado japonês, cor de leite aguado, amarelada". Também chama ela de fingida várias vezes. Fingida, fingida, fingida. Todo esse incômodo surge do fato de Marla começar a frequentar os grupos de apoios também. Jack simplesmente não consegue chorar enquanto Marla está presente, ela o faz lembrar que ele também é um mentiroso, o que traz sua insônia de volta. Ele acha absurdo Marla frequentar grupos de apoios quando ela não tem nenhuma doença, e, mesmo ele também não tendo, ele acha os grupos indispensáveis para sua vida, é a sua forma de relaxar.
"Tyler estava puxando os troncos das ondas e arrastando-os para a praia. Tyler criou a sombra da mão de um gigante e sentou-se na palma da perfeição que ele próprio criara."
"Da próxima vez que nos encontrarmos, direi: Marla, não consigo dormir com você aqui. Eu preciso disto. Dê o fora."
Quando finalmente Jack consegue ter algumas noites de sono, entra Marla na história. Ele dá uma descrição da personagem: "cabelos curtos, pretos, desgrenhados, olhos redondos como num desenho animado japonês, cor de leite aguado, amarelada". Também chama ela de fingida várias vezes. Fingida, fingida, fingida. Todo esse incômodo surge do fato de Marla começar a frequentar os grupos de apoios também. Jack simplesmente não consegue chorar enquanto Marla está presente, ela o faz lembrar que ele também é um mentiroso, o que traz sua insônia de volta. Ele acha absurdo Marla frequentar grupos de apoios quando ela não tem nenhuma doença, e, mesmo ele também não tendo, ele acha os grupos indispensáveis para sua vida, é a sua forma de relaxar.
"Tyler estava puxando os troncos das ondas e arrastando-os para a praia. Tyler criou a sombra da mão de um gigante e sentou-se na palma da perfeição que ele próprio criara."
Finalmente entra Tyler Durden. Jack e Tyler se conhecem na praia. Tyler trabalha como projecionista de filmes de cinema, e, ocasionalmente em restaurantes. Sem falar que ele também sabe fazer muitas coisas, como sabão ou bombas caseiras de todos os tipos. Após encontrar sua casa destruída por uma explosão enquanto estava em uma viagem de trabalho, Jack é convidado por Tyler para morar com ele. Desde que Tyler entra na história, Jack parece aprender todo um mundo novo. Mesmo sendo diferentes em muitos aspectos, não é difícil você ver como os personagens estão conectados um ao outro. Chega até a parecer meio homoafetivo, certas vezes.
"Então eu bati, dei um soco bem embaixo da orelha, Tyler me empurrou e acertou o salto dos sapatos no meu peito. Não posso dizer o que aconteceu em seguida nem depois, mas o bar fechou e as pessoas estavam gritando em volta de nós no estacionamento.
Em vez de Tyler, finalmente senti que podia arrebentar com tudo que não funcionava na minha vida, da lavanderia que entrega minhas camisas com os botões quebrados, ao banco avisando que estou centenas de dólares no vermelho. Do meu trabalho, onde meu chefe usa meu computador e desfaz todos os meus comandos do DOS, a Marla Singer, que roubou de mim os grupos de apoio."
"Então eu bati, dei um soco bem embaixo da orelha, Tyler me empurrou e acertou o salto dos sapatos no meu peito. Não posso dizer o que aconteceu em seguida nem depois, mas o bar fechou e as pessoas estavam gritando em volta de nós no estacionamento.
Em vez de Tyler, finalmente senti que podia arrebentar com tudo que não funcionava na minha vida, da lavanderia que entrega minhas camisas com os botões quebrados, ao banco avisando que estou centenas de dólares no vermelho. Do meu trabalho, onde meu chefe usa meu computador e desfaz todos os meus comandos do DOS, a Marla Singer, que roubou de mim os grupos de apoio."
Tyler Durden lança uma proposta de fundar um clube, um local onde eles pudessem se reunir e extravasar. Surge então o Clube da Luta, formado por pessoas que se reúnem em porões de bares. As regras mais importantes:
- Nunca falar sobre o Clube da Luta.
- De novo, nunca falar sobre o Clube da Luta.
- Se alguém gritar "pára", fizer uma espécie de sinal, ou ficar inconsciente, a luta acaba.
- Somente duas pessoas por luta.
- Uma luta por vez.
- Sem camisa e sem sapatos.
- As lutas duram o tempo necessário.
- Se for sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar.
Parece só pancadaria, e no começo é só isso mesmo, mas ao decorrer do livro, o Clube da Luta vai além disso. Ele cresce, o que já deixa óbvio que as duas primeiras regras não são seguidas ao pé da letra. Toma proporções tão gigantescas, que Tyler vê no Clube da Luta, uma forma de lutar contra o sistema. Ele cria subcategorias, cada uma com um propósito específico de combater algo. Ele quer destruir todo o nosso modelo de sociedade e criar um novo, e quem tentar impedi-lo terá nada menos que seus testículos arrancados, uma regra que se aplica a qualquer um, inclusive a ele. No meu entendimento, a fábrica de sabão que ele cria em sua própria casa, foi uma forma de além de ganhar dinheiro, mascarar tudo o que acontecia nela, como a criação de bombas e o recrutamento de pessoas que queriam atuar nos diversos departamentos do Clube da Luta.
Além de todo o universo do Clube da Luta, paralelamente ocorre uma espécie de triângulo amoroso. Tyler conhece Marla e se envolve com ela. Mesmo Jack, nosso personagem sem nome, achando que odeia Marla, dá para notar uma espécie de incômodo (será ciúme?) a respeito do relacionamento de Tyler e Marla. E na verdade, Marla parece gostar de Jack e dá bola para ele várias vezes. O que eu achava bem estranho, era nunca os três personagens estarem juntos no mesmo lugar. Sempre que Marla estava com Jack, Tyler simplesmente sumia. Só vim entender o porquê disso no final da história.
"Sei disso, porque Tyler sabe disso."
"Sei disso, porque Tyler sabe disso."
O Clube da Luta vira quase que uma espécie de revolução e Jack vê as consequências daquilo em que Tyler o envolveu. Em todos os lugares por onde anda, ele vê pessoas com machucados no rosto, contusões: os sinais de um lutador do clube. Por achar que tudo já passou dos limites, ele decide dar um jeito de acabar com o Clube da Luta, visitando os locais onde os grupos de combate se reúnem. É aí que surge o ponto mais estranho, e que me deixou mais estupefata em todo o livro: Tyler e Jack são a mesma pessoa. Jack percebe que Tyler é, na verdade, uma invenção do outro lado de si mesmo. Tyler é a projeção de tudo aquilo que Jack nunca foi, se aventura de uma forma que ele nunca se aventuraria. Todas as vezes em que o personagem dorme, Tyler assume seu lugar.
Pois é, seu distúrbio de dupla personalidade criou uma situação bem complicada pra Jack, hein? E quando Jack realmente se toca que ele e Tyler são um só, a confusão não fica apenas ali no livro, ela vem para nossa cabeça também. A gente começa a criar um nexo em todas as situações vividas pelos dois personagens, tentando achar a lógica para aceitar o fato dos dois serem a mesma pessoa. Tentando entender como o seu alter ego não enganou apenas a si mesmo, mas também todos ao seu redor. É complicado, mas se sua leitura foi bem atenciosa, você irá perceber que a linha de raciocínio do Chuck Palahniuk não é tããão inconcebível assim. Na verdade considerei genial.
"Os anjos daqui são aqueles do antigo testamento, legiões e lugares-tenentes, uma hoste celestial que trabalha em turnos, dias, períodos. Cemitério. Eles trazem as suas refeições e os seus medicamentos num copinho descartável. Um kit Vale das Bolinhas.
Conheci Deus na sua longa mesa de nogueira com seus diplomas pendurados na parede, e Ele me pergunta: Por quê? Por que causei tanto sofrimento?"
O final da trama, que continua de onde o começo do livro parou, mostra o momento decisivo. Nosso herói esquizofrênico morre ou não? Lembrando que como ele e Tyler são a mesma pessoa, para quem vê de fora, deveria ser um homem apontando uma arma para si mesmo. E é justamente isso que acontece: Marla chega para impedir o assassinato de Jack, fazendo-o acordar do seu surto e ele entende que na verdade o que iria acontecer não era um assassinato e sim um suicídio. Mesmo já ciente, Jack atira em si mesmo, mas o tiro sai pela culatra. As últimas partes do livro mostram Jack vivo, provavelmente em um sanatório. A descrição que o personagem dá do local e de sua situação, comparando-os com o céu é realmente perturbadora, faz você perceber que ele é mesmo doente. Porém, nem mesmo no sanatório, Jack não se vê livre do que armou. A todo momento, pessoas que trazem seu lanche ou os remédios dizem: "Sentimos sua falta, sr. Durden" ou "Tudo está de acordo com os planos, nós vamos levá-lo de volta". Nem Jack/Tyler Durden ou quem seja, pode deter o Clube da Luta.
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Há também o filme Clube da Luta, que foi uma adaptação do livro para o cinema, produzido em 1999. Foi dirigido por David Fincher e protagonizado por Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter. Ainda não assisti, mas pelo que eu ouço falar o filme parece ser muito bom. Abaixo, assista um trailer do filme:
"Os anjos daqui são aqueles do antigo testamento, legiões e lugares-tenentes, uma hoste celestial que trabalha em turnos, dias, períodos. Cemitério. Eles trazem as suas refeições e os seus medicamentos num copinho descartável. Um kit Vale das Bolinhas.
Conheci Deus na sua longa mesa de nogueira com seus diplomas pendurados na parede, e Ele me pergunta: Por quê? Por que causei tanto sofrimento?"
O final da trama, que continua de onde o começo do livro parou, mostra o momento decisivo. Nosso herói esquizofrênico morre ou não? Lembrando que como ele e Tyler são a mesma pessoa, para quem vê de fora, deveria ser um homem apontando uma arma para si mesmo. E é justamente isso que acontece: Marla chega para impedir o assassinato de Jack, fazendo-o acordar do seu surto e ele entende que na verdade o que iria acontecer não era um assassinato e sim um suicídio. Mesmo já ciente, Jack atira em si mesmo, mas o tiro sai pela culatra. As últimas partes do livro mostram Jack vivo, provavelmente em um sanatório. A descrição que o personagem dá do local e de sua situação, comparando-os com o céu é realmente perturbadora, faz você perceber que ele é mesmo doente. Porém, nem mesmo no sanatório, Jack não se vê livre do que armou. A todo momento, pessoas que trazem seu lanche ou os remédios dizem: "Sentimos sua falta, sr. Durden" ou "Tudo está de acordo com os planos, nós vamos levá-lo de volta". Nem Jack/Tyler Durden ou quem seja, pode deter o Clube da Luta.
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Há também o filme Clube da Luta, que foi uma adaptação do livro para o cinema, produzido em 1999. Foi dirigido por David Fincher e protagonizado por Brad Pitt, Edward Norton e Helena Bonham Carter. Ainda não assisti, mas pelo que eu ouço falar o filme parece ser muito bom. Abaixo, assista um trailer do filme:
Sei que minha resenha ficou longa, mas como disse, o livro é bem complexo. Ele merecia ser bem destrinchado. E ainda assim, não sei se ficou tão legal, mas essa foi só a primeira. Espero que vocês tenham gostado. Contem o que acharam nos comentários, ou divulgando essa postagem para ajudar no crescimento do blog!
Beijos e queijos :*
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